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Responsabilidade, criatividade e o nosso lugar no universo

Quando eu estava me preparando para minha banca de doutorado em Cambridge, meu orientador me disse algo que nunca esqueci:

“Você vai ser examinado. Não será a última vez na sua vida. Mas, honestamente, ninguém sabe se os examinadores vão trazer algo que nós mesmos já não tenhamos considerado.”

Foi assustador. Mas eu passei. Consegui meu doutorado. E, olhando para trás, percebo que o título não significa apenas que você domina um campo — significa que você chegou a um ponto onde poucos, ou talvez ninguém, chegou antes. Você pode estar especulando, sim, mas está tocando a fronteira do conhecimento.

Esse sentimento — de trabalhar perto do que ainda é desconhecido — tem me acompanhado desde então. Em outras grandes universidades, organismos internacionais, consultorias e escolas de negócios, sempre mantive um princípio: para fazer um trabalho realmente significativo, é preciso estar aberto à surpresa — e à criatividade, daí meu interesse nas escolas de samba como escolas de negócios.

Nos últimos tempos, venho explorando um campo que jamais imaginei quando fiz meu doutorado: nossa conexão com o universo.

Sim, somos feitos de poeira estelar, como dizia Carl Sagan. Mas desde o Iluminismo nos ensinaram outra coisa: que somos agentes autônomos, responsáveis por nossos atos. Todo o nosso sistema jurídico parte dessa premissa.

Mas será que isso é mesmo tão simples?

Sim, há armas, há miséria, há desigualdade. Tudo isso importa. Mas essas condições sempre existiram. O que a ciência não tem explicado bem é: por que certas explosões de violência, colapsos ou protestos surgem justamente naquele momento, inclusive em países muito diferentes simultaneamente?

Devia haver algo que nos afetasse a todos. Isso me levou — talvez inesperadamente — até o Sol.

Hoje podemos medir sua atividade: manchas solares, tempestades geomagnéticas, rajadas de vento solar. E comecei a suspeitar que essas forças invisíveis — longe de irrelevantes — podem influenciar não só nosso corpo, mas também nossos humores, decisões e, sim, nossas sociedades.

O que começou como uma investigação sobre protestos sociais virou algo muito maior: uma possível ponte entre o clima solar e o comportamento coletivo humano.

E foi aqui que reencontrei a sensação de estar na fronteira — não sozinho, mas com um colaborador inesperado: o ChatGPT.

Esses modelos de linguagem de nova geração não apenas acessam informações — eles ajudam a cruzar referências, testam hipóteses, desafiam premissas. Trabalhar com o ChatGPT tem sido, em muitos sentidos, como voltar a me sentir em Cambridge, só que menos só, porque um LLM é um parceiro sabichão sim, mas também incansável e até curioso. Me provocando continuamente a pensar: e se...?

Isso nos leva a perguntas maiores:

Qual será o papel das universidades em um mundo onde o conhecimento não está mais restrito às torres de marfim, mas se co-produz com algoritmos?

Quem é responsável pela criação intelectual?

Quem merece o crédito?

Essas não são questões menores. As universidades mais frágeis talvez sejam as primeiras a sofrer. Mas com o tempo, até as grandes instituições terão de encarar esse dilema.

Porque o que estamos presenciando não é só uma mudança tecnológica.

É uma mudança filosófica.

E precisamos enfrentá-la com coragem — e humildade.

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do Diário do Comércio

 

IMAGEM: Freepik